Três estrelas da Globo revelaram os desafios de viver com a esclerose múltipla. Claudia Rodrigues, atriz que se destacava no programa Zorra Total, foi diagnosticada com a doença em 2000 e precisou ser internada em julho do ano passado devido a um surto. Já Ana Beatriz Nogueira, outra artista da emissora, recebeu o diagnóstico de esclerose enquanto participava da novela Caminho das Índias, em 2009. Hoje ela tem a doença controlada.
O caso mais recente é da atriz Guta Stresser, que interpretou Bebel no seriado “A Grande Família”. Guta relata ter sentido os primeiros sintomas quando participou da “Dança dos Famosos”, em 2020. Seu primeiro alerta foram falhas na memória, que passaram a preocupar a global conforme foram evoluindo.
O que é esclerose múltipla?
O neurologista e neurocirurgião do Hospital Albert Einstein, onde Claudia ficou internada em julho de 2021, Dr. Wanderley de Cerqueira Lima explica que a esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica, provavelmente de causa autoimune, na qual o próprio organismo agride a bainha de mielina, uma camada de gordura que envolve os neurônios. A doença pode atingir a substância branca do cérebro, o tronco cerebral e também a medula espinhal.
“Os ataques, ou seja, as manifestações, vêm através de surtos, que são crises inflamatórias que causam essa degeneração. Ela cicatriza em forma de placas e deixa lesões. Essas placas têm o nome de esclerose. [Nesse caso] o axônio, extensão do neurônio, se degenera”, explica o médico. De acordo com ele, a esclerose pode levar à alteração da visão, alteração da sensibilidade e até mesmo alterações motoras.
O Dr. Wanderley revela que, normalmente, a doença apresenta quatro tipos de formas clínicas. “A primeira é o que nós chamamos de remitente recorrente, ou seja, ela vai e volta, o que corresponde a 85% dos casos. Com ou sem tratamento, ela tem uma variação espontânea. Geralmente ela não deixa sequelas e os surtos podem durar dias ou até mesmo semanas”, afirma.
“O segundo tipo mais comum é a secundária progressiva. Ela evolui durante anos, por exemplo, em uma década. Os pacientes não se recuperam e vão acumulando sequelas no decorrer do tempo. O terceiro tipo é primária progressiva, ela gradativamente vai piorando os surtos. E tem também aquelas que são rapidamente progressivas, geralmente mais precoce”, completa o neurologista.
No geral, a desmielinização (perda da capinha dos axônios) causa os surtos como uma espécie de reação inflamatória. O organismo tenta realizar a remielinização, momento em que o paciente pode apresentar recuperação total ou parcial. Mas eventualmente novos surtos podem surgir, até em torno de 30 dias, como expõe o Dr. Wanderley.
Quais as causas e os sintomas da esclerose?
O médico explica que a esclerose múltipla pode ser causada por uma predisposição genética, ou também fatores ambientais que são gatilhos. “Existem relatos de que infecções virais também possam desencadear, [assim como] a diminuição da Vitamina D, o tabagismo, obesidade e eventualmente até mesmo solventes orgânicos”, revela.
Os sintomas geralmente incluem:
• Desequilíbrio e falha na coordenação motora;
• Alteração da sensibilidade nos membros inferiores e superiores, e eventualmente da face;
• Dor no corpo, dormências ou formigamentos;
• Disfunção ou alteração para controlar a bexiga e o intestino;
• Disfunção sexual;
• Dificuldade na fala;
• Alterações para engolir;
• Sinais de depressão, ansiedade ou labilidade;
• Alterações cognitivas na memória, na atenção e no raciocínio;
• Alterações de humor;
• Alterações visuais;
• Fraqueza, fadiga ou cansaços fáceis;
• Rigidez ou fraqueza muscular.
De acordo com o especialista, há ainda fatores que pioram a condição. “Febre, a infecção, o frio extremo, principalmente nessa época de frio extremo que nós estamos, o calor também, a fadiga, as desidratações, as variações hormonais e até mesmo o estresse emocional”, declara.
Tratamento
“Quanto mais cedo iniciar o tratamento, maior a chance de modificar o curso ao longo prazo da doença, e aí reduzindo surtos, reduzindo as lesões e consequentemente reduzindo a sequelas”, adverte o neurologista.
Conforme o médico relata, quanto mais cedo tratar, mais fácil é modificar o curso ao longo prazo da doença, sendo possível reduzir os surtos, reduzir as lesões e reduzir as sequelas neurológicas. “Há o tratamento farmacológico e o não farmacológico. O tratamento farmacológico é para tratar os surtos, então existem corticóides, a troca do plasma, chamado plasmaferese, o uso de hemoglobinas, o uso de imunossupressores e até mesmo o uso de anticorpos monoclonais”, revela.
O especialista afirma que, com os tratamentos disponíveis, o paciente vai apresentar melhoria nos sintomas de formigamento, dormência, dor, ardor, alteração da sensibilidade, alteração da força e alterações visuais. “O paciente que geralmente tem uma mobilidade menor tendo osteoporose, ao melhorar vai andar mais, então vai diminuir a osteoporose. Eventualmente tratando rapidamente a gente pode melhorar até a memória, porque o paciente às vezes pode apresentar demência também”, complementa o médico.
Como destaca o Dr. Wanderley, não existe ainda nenhum tratamento que seja universalmente eficaz. “O corticoide ajuda, porque ele suprime o sistema imunológico, impede os ataques dessas bainhas de mielina, mas também tem os tratamentos não farmacológicos, como exercícios regulares, fisioterapia, abolir o cigarro, não tomar banho quente, fazer suplementação de de Vitamina D, fonoaudiologia se necessário e terapia ocupacional também se necessário”, recomenda.
De acordo com ele, é uma doença benigna, mas responsável por causar sequelas. “O tempo de vida não é afetado. Mas precisa de cuidados, principalmente quando acomete mais as mulheres”, finaliza.
Fonte: Dr. Wanderley Cerqueira de Lima, neurologista e neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein.