Posithividades é um grupo online de apoio às pessoas que vivem com HIV, ajudando essa população a enfrentar o estigma e a transformar o modo de pensar a partir da sorologia.
O grupo foi criado e é mediado por Lucian Ambros, 34 anos, administrador de empresas, especialista em gestão e negócios, MBA em Marketing Digital Produção de conteúdos e redes sociais, concluindo especialização em sexologia. Lucian vive com HIV há 12 anos.
Em 2017, ele decidiu tornar pública a sua sorologia de HIV e, a partir deste momento, buscou levar informações e acolher pessoas que descobriram o seu status sorológico recentemente. “O que eu tento fazer é trazer informações para essas pessoas sobre o que elas estão vivendo e enfrentando. Todos nós precisamos de referências para poder evoluir e é o que eu procuro fazer: informar. Nestes 5 anos de projetos já foram acolhidas mais de 30 mil pessoas do Brasil e do mundo.” contou Lucian.
Também em 2017, ele começou um grupo via Whatsapp, onde cada pessoa interessada em participar precisa comprovar que vive com HIV enviando uma foto do rosto e da medicação, por questões de segurança e sigilo sorológico dos outros participantes. Após ingressar no grupo, cada participante se apresenta e, a partir daí, são tiradas dúvidas e compartilhadas vivências e experiências.
Todas essas orientações foram passadas por pessoas da área de direito, que auxiliam Lucian sobre os direitos do sigilo em relação à sorologia dos indivíduos. “Mesmo tento que abrir seu status sorológico para se inscrever, as pessoas já têm confiança na página e sabem que levamos esse assunto muito a sério. Elas se sentem mais seguras em relação a isso”, comentou.
Lucian prefere trabalhar de forma remota porque assim consegue alcançar uma população maior. “Sempre optei por trabalhar nas redes sociais. Tem muitas pessoas que moram em cidades pequenas que, às vezes, não têm grupo de acolhimento e apoio presencial, lugares onde possam buscar suporte. Por isso, eu achei por bem continuar nas redes sociais, fazendo encontros online. Procuro fazer, pelo menos, de 1 a 2 encontros por mês, que duram cerca de 3 horas, o que é outro diferencial”, disse.
Uma outra coisa de extrema importância para ele são os cuidados durante a mediação, fazendo os encontros se tornarem acolhedores e e não gerarem medo nos envolvidos, uma vez que muitos relatam situações que podem afetar emocionalmente os outros participantes. “Eu sempre fiz acolhimento. Atualmente fazemos rodas de conversas uma ou duas vezes por mês, e o nosso público é encaminhado para um grupo chamado ‘A Seita’, que é nossa seita secreta para discutir sobre tratamento, tirar dúvidas sobre HIV e trocar experiências”, relatou.
No início, o nome do projeto online era “Encontro Atividades”, mas Lucian reformulou o nome para “Projeto Catavento”, que faz uma analogia com o dispositivo que precisa do vento para se movimentar. “As pessoas precisam de informação para evoluírem. Eu gosto muito dessa referência e busco trazer isso para o projeto”, observou.
Os encontros eram pagos mas, a partir deste ano, Lucian decidiu mudar. “Parei de monetizar os encontros justamente para ter uma adesão maior. Fizemos testes para encontrar o modelo certo que seria ideal para todos. Desde o ano passado, o projeto se modificou e busquei implantar um grupo de acolhimento online via Google Meet”, explicou. Após esse encontro, o participante entra no grupo do Whatsapp, que tem como nome “A Seita que dói menos”. É um momento pós encontro online de suporte aos novos integrantes que chegam e de continuidade do trabalho de troca de experiências.
O grupo tem diversas regras que foram se moldando ao longo dos anos. Por exemplo, política é um assunto proibido, por gerar atritos que fogem da finalidade principal da iniciativa. “Além disso, após certo tempo dentro do grupo, algumas pessoas são promovidas a administradores, por já terem passado do luto pela descoberta da sorologia e terem autonomia em novos acolhimentos. Criamos uma comunidade entre pessoas que vivem com HIV, com grande diversidade e uma galera de várias idades, classes sociais e orientação sexual,” explicou Lucian.
“Houve casos de pessoas que tinham acabado de descobrir estar vivendo com HIV e de outras que já sabiam há anos, mas não conseguiam seguir a vida após o diagnóstico. Os grupos ajudaram essa turma a se ver de outras formas, fazendo realmente com que elas aceitassem a sua condição sorológica”, completou.
“Em alguns casos os familiares podem participar dos encontros. A descoberta do HIV deixa muitas pessoas inseguras em relação ao tempo de vida que vão ter e sobre como serão os relacionamentos após o diagnóstico. Existe a dificuldade em revelar as sorologias para os parceiros e também a emoção quando alguém chega no indetectável”, esclareceu.
Lucian tem um recado para as pessoas que descobriram sua sorologia recentemente e ainda estão lidando com o medo. “Busquem referências próximas. Se não tiverem, pesquisem em grupos. Os grupos auxiliam muito, o conhecimento ajuda a transformar e a informação é o que salva”, concluiu.
Os interessados em fazer parte do grupo de apoio podem encontrar todas as informações no Instagram do Posithividades.
Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)
Dica de entrevista:
Lucian Ambros
Instagram: @posithividades