Estreia ainda neste ano, em data a ser confirmada, uma das grandes apostas dos serviços de streaming da Disney no Brasil. Na esteira do sucesso dos filmes e séries baseados em casos reais, agora é a vez de contar a história da Turma do Balão Mágico, grupo que marcou uma geração com os lançamentos musicais e um programa na TV Globo.
Preparada para o Star+, a série “A Super Fantástica História do Balão” se propõe a contar a história do surgimento do Balão Mágico com imagens inéditas e de arquivo. Além disso, depoimentos de amigos, familiares e artistas que fizeram parcerias históricas com o grupo e um reencontro especial dos quatro integrantes.
Visitamos as filmagens e conferiu o momento do reencontro dos “balões”. Simony, Mike, Tob e Jairzinho se reuniram em um teatro da capital e que puderam conversar sobre as lembranças — boas ou nem tanto — que guardam da época em que foram as crianças mais famosas do Brasil.
A visita foi realizada em meados de julho, antes de Simony revelar seu diagnóstico de câncer. Ricardinho, que substituiu Tob e teve rápida participação na reta final da existência do grupo, não fez parte do encontro.
Entre as histórias a respeito da Turma do Balão Mágico, a exclusão de um dos integrantes por ter crescido rápido demais, a entrada de um integrante após um apelo pela libertação do pai sequestrado e o impacto do sucesso não apenas nas vidas deles, mas nas dos músicos com os quais cantaram, como Djavan.
O começo de tudo
Simony foi a primeira a surgir para o grande público. Hoje com 46 anos, a cantora tinha apenas 3 anos quando iniciou a sua carreira artística cantando no programa de Raul Gil. Aos 5 anos, graças ao grande sucesso que fazia, ela recebeu um convite de Tomas Muñoz para fazer parte de um grupo infantil. Era o início do Balão.
Na mesma época, em 1982, o jovem Vímerson Cavanillas Benedicto, que depois ficaria conhecido como Tob, começou a fazer sucesso em comerciais de TV e programas de calouros.
Ele foi levado pelo irmão para um teste assim que este ficou sabendo que havia a ideia para um grupo musical formado por crianças. Tob foi aprovado e imediatamente convidado para fazer uma dupla, ou espécie de “casal”, com Simony, eternamente a única menina da formação.
Quando o primeiro disco já estava quase pronto, Mike foi adicionado à equação. Seu surgimento, aliás, é um tanto peculiar: ele apareceu fazendo um apelo na televisão para que seu pai, o criminoso britânico Ronald Biggs, fosse libertado do cativeiro de um sequestro no Caribe. A comoção que seu pedido causou fez com que ele fosse convidado para integrar o Balão.
O primeiro disco vendeu mais de 1 milhão de cópias. “Acho que é uma coisa meio mágica mesmo, o Balão era mágico”, reflete Simony, em entrevista a Splash. “A importância vem de uma relação entre pais e filhos, eles vão passando de uma geração para outra. Hoje, existem crianças de três, quatro anos que amam o Balão Mágico, e a internet ajuda muito.”
O sucesso do primeiro LP fez a Turma do Balão se tornar prioridade para a gravadora CBS — hoje Sony.
No segundo disco, participações como de Djavan e Baby Consuelo fizeram com que as as crianças atingissem novos patamares de alcance nacional, e eventualmente eles ganharam um programa na TV Globo, o “Balão Mágico”, que ficou no ar entre março de 1983 e junho de 1986. O programa apresentou o personagem Fofão a gerações inteiras que se dividem entre amá-lo e guardarem traumas e medos de sua figura.
“O que foi o Balão e o que nós fomos não existe mais. Não tem nada assim hoje em dia. Acho que esse diferencial faz com que as crianças continuem se apaixonando a cada dia.”Simony
“Acho que estava na hora de alguma coisa assim ser feita, né?”, ri Mike. “O Balão tem uma trajetória muito boa, e rola aquela coisa da memória afetiva com as pessoas. O bonito do Balão é que todo mundo tem alguma coisa gostosa para lembrar”, diz o ex-integrante do grupo.
Mike Biggs recupera uma conversa que teve com Djavan, que atribui parte do sucesso que tem hoje à parceria com o grupo, na clássica faixa “Super Fantástico”.
“Eu tive um papo com o Djavan em Londres uma vez, e ele falou para mim que grande parte do público dele hoje o conhece por causa do Balão. As crianças não sabiam quem era e de repente ele surgiu, e foi aquela coisa grandiosa.”Mike Biggs
Para o eterno Tob, que hoje trabalha com arte, voltar para o universo da empreitada infantil traz uma nova dimensão do real impacto causado pelo Balão Mágico.
“Eu sempre achei que um documentário seria uma forma de amarrar tudo o que já fizemos, e fiquei contente quando veio o convite. Acabamos voltando àquela época, e relembrando coisas das quais não tínhamos muita noção”, reflete.
“Nessa volta em que fizemos alguns shows, temos outra dimensão do que realmente foi o Balão para as outras pessoas. Quando crianças, não entendemos muito bem o que está acontecendo, onde estamos indo. Agora, já adulto, é muito mais significante. Fico muito feliz de participar.”
Como a puberdade tirou Tob do Balão Mágico
Dos cinco álbuns gravados pelo Balão Mágico, Tob participou de três. Antes da gravação do quarto disco, a gravadora acabou retirando-o do grupo, pela mudança no tom de voz ocasionada pelo início da puberdade.
“Eu estava entrando na adolescência, então a voz engrossou, eu estava começando a esticar. Eles estavam pequenos e eu lá, gigante”, brinca. “E com isso eu comecei a sentir um pouco de vergonha, pois as mudanças no físico passaram a me incomodar. Por isso, quando saí, não achei tão negativo.”
Na época, uma outra pessoa já fazia parte do grupo: Jair Oliveira, filho de Jair Rodrigues, começou a ganhar destaque na mídia depois de uma apresentação que fez com o pai na Itália. Convidado a ocupar uma vaga que teria sido de uma menina, ele se tornou o Jairzinho.
“Foi um grupo musical e televisivo que marcou tanto uma geração que eu acho que faria todo sentido contar essa história, como está fazendo agora”, reflete Jair. “A ideia é contar como o grupo foi formado, retomar os sucessos e as dificuldades, tudo o que um documentário pode esclarecer para as pessoas.”
Hoje, Jair Oliveira mora nos Estados Unidos com a esposa, a atriz Tania Khalil, e as filhas do casal, Isabella e Laura. Mesmo distante e com uma outra vida, ele voltou para o Brasil especialmente para as filmagens do documentário, que ele não considera um retorno nostálgico. Além disso, é dele a autoria de uma canção inédita, “Infância”, escrita especialmente para o programa.
“O engraçado é que, para mim, não é sobre voltar para o mundo do Balão Mágico, não é bem essa a sensação”, reflete.
“É um mundo que faz parte da minha história, então eu nunca me soltei realmente dele. Assim como todas as outras coisas que acontecem na minha carreira, eu guardo com muito carinho, e é uma alegria poder falar sobre ele e esclarecer para as pessoas, e para nós mesmos, alguns aspectos de como essa história tão bonita da infância de muita gente aconteceu.”
Jairzinho conta que a função do documentário é de retomar a importância histórica de um material, e tece uma comparação com a sensação que teve ao descobrir o tamanho da importância que seu próprio pai tem para as outras pessoas.
“Quando eu vi um dos documentários [sobre Jair Rodrigues] prontos, o do Rubens Ewald, foi que eu entendi através dos depoimentos, das imagens. Eu me emocionei com o tamanho desse cara. E eu acho que com o documentário do Balão Mágico vai ser meio parecido”, compara, citando o documentário “Jair Rodrigues – Deixa Que Digam” (2020).
“Eu como filho o acompanhando não tinha uma dimensão de verdade”, explica. “Então, depois, quando reúnem os fatos e alguns depoimentos em um documentário, é que você fala: ‘Caramba! Esse cara é meu pai!’ Com o Balão pode ser parecido porque acabamos marcando uma época ali, junto a outros grupos como o Trem da Alegria. Acho que época em que havia muita criança fazendo conteúdo para criança vai ser bem explorada no documentário.”