BBB 22: Precisamos rever os julgamentos e expectativas que criamos sobre Vyni

Vyni foi o participante do "BBB 22" que mais ganhou seguidores no dia da divulgação do elenco. Muitos lembraram de Gil do Vigor, declararam torcida precocemente e criaram fortes expectativas. Com o passar do tempo, porém, o bacharel em direito decepcionou parte do público por não se envolver em tretas, fazer um jogo apaziguador, fechar com o quarto Lollipop e grudar em Eliezer.

Nas redes sociais, Vyni é um dos participantes mais atacados diariamente. A relação com Eli, inclusive, tem gerado muitas críticas ao brother. Ele não sai da cola do amigo, que já se envolveu com Maria e Natália. Há quem chame de falta de noção. Outros acreditam que ele esteja apaixonado. O fato é que, em todos os casos, falta empatia ao falar sobre o jovem dentro e fora da casa.

Na madrugada desta quinta-feira (17), Vyni virou chacota (mais uma vez!), após Natália pedir para que ele pegasse uma camisinha para ela transar com Eliezer. Embora a cena tenha gerado várias interpretações sobre a atitude de Natália, é importante ressaltar que a sister não é obrigada a saber o que ele sente. Eli é livre e não tem que deixar de se relacionar com quem sente vontade por causa dele.

Por outro lado, o público, sobretudo os responsáveis pelos comentários pejorativos nas redes sociais, tem acesso a tudo que acontece no reality show, já ouviu desabafos do jovem, e deveria pegar mais leve ao falar sobre ele. As críticas restritas ao jogo de Vyni são válidas, o que precisamos entender urgentemente são os efeitos de outras publicações.

HomofobiaVyni tem apenas 23 anos e já fez relatos fortes sobre sua vida fora do confinamento. Recentemente, ele contou que apanhou na rua por ser gay. Antes disso, afirmou que não se sente livre: "A pessoa é meio que forçada a viver se escondendo, com medo de ser quem é. Já ouvi muita coisa pesada nesse sentido, que não valia nada, que não era ninguém e que nunca ia chegar lá. Graças a Deus, minha família sempre me deu apoio em tudo, mas machuca ouvir esse tipo de coisa e acaba que a confiança vai lá para baixo".

Ainda que sejam feitos sem intenção, alguns comentários sobre Viny dão margem para ataques homofóbicos e refletem o que ele próprio afirmou no reality. Mesmo que a LGBTQIA+fobia seja crime no Brasil há mais de dois anos, a violência só cresce. De acordo com dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2021, o número de ocorrências contra pessoas LGBTQIA+ cresceram 20% em relação a 2020.

No ano anterior, a média foi de quatro casos de LGBTQIA+fobia por dia, considerando lesão corporal, homicídio e estupro. O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+, especialmente pessoas trans, de acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Em 2020, foram 175 pessoas trans assassinadas, sem contar o número de crimes não declarados.

AcolhimentoNão por acaso, Linn da Quebrada foi a única a ter um olhar diferenciado para o brother. Em uma festa, antes da expulsão de Maria, ela chegou a conversar com o cearense sobre seu crush por Eliezer. "A gente gosta das pessoas e a gente não consegue dizer os limites, é difícil colocar os limites da onde até vai uma coisa e da onde passa uma coisa para virar outra. E nessa a gente vai achando que não está se machucando e, às vezes dói, não machuca, mas dói um pouquinho. A gente quer ser gostado um pouquinho, né?", disse ela.

Em conversa com Brunna e Maria, Linna ainda falou que se entristece ao vê-lo sofrendo por Eli porque já passou por isso. As reações aos beijos do "BBB 22", inclusive, mostram que travestis não são vistas como opções de amor. É fácil entender de onde vem essa empatia da artista.

Nesta quinta-feira (17), a equipe de Vyni lamentou os ataques que ele tem recebido: "É muito triste que mesmo após Viny se abrir e falar exatamente como se sente após tudo o que passou, falar o quanto se apega após uma demonstração de carinho, por já ter se esquecido de como é se sentir amado, gostado, pessoas ainda consigam menosprezar e tacar hate em cima dele. Mas acreditamos que isso diz muito mais sobre quem faz, do que sobre ele em si. Sabemos que Vyni tem um coração lindo e que luta diariamente contra todas suas dores. Cadê a empatia que tanto pedem?".

RacismoOs julgamentos que Vyni recebe também passam por outro lugar: racismo. Como gay afeminado, preto e pobre, o brother é cobrado mil vezes mais. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888, e a segregação racial continuou na ausência de oportunidades, de direito a voto, e posteriormente no sistema prisional (pessoas pretas representam 66,7% da população carcerária). O racismo está entranhado no mercado de trabalho, nas oportunidades educacionais, na televisão, no entretenimento e em todas as camadas da sociedade brasileira.

Um dossiê do Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos mostra que existem diferenças importantes na vivência sobre sexualidade e identidade quando a questão é racializada, tanto entre as experiências das pessoas LGBTQIA+ brancas e negras, como nas experiências entre as pessoas cis e trans. O mesmo estudo avalia esta dessemelhança através da tese defendida pelo pesquisador e ativista negro e gay da Rede Afro LGBT, instituição sediada na Bahia, Washington Dias. “Há questões diferentes. Enquanto os gays brancos lutam por matrimônio e igualdade, a realidade para a imensa maioria dos negros gays é lutar pela sobrevivência”, pontua.

XenofobiaAs comparações com Gil do Vigor até pareciam memes no começo. Depois, a discussão foi tomando outro tom e evidenciou forte xenofobia. O sotaque, a postura, as brincadeiras. Tudo foi automaticamente associado ao participante da temporada passada, o que não é justo com Vyni e muito menos com Gilberto.

Perfis parecidos sempre existiram no reality show da Globo, mas as reações costumam ser diferentes quando não se tratam de minorias. É o que observa Lucilda Cavalcante Lourenço, antropóloga e pesquisadora de raça, gênero, violência e movimentos políticos culturais em Fortaleza, no Ceará.

Segundo ela, Vinícius tem suas individualidades e não pode ser rotulado apenas por ser gay e nordestino. "Comparar Vinícius ao Gil, antes de ser xenofobia, é uma espécie de LGBTfobia. Não é porque os dois são gays afeminados que têm o mesmo tipo de personalidade", defende a antropóloga.

Rever os julgamentos e expectativas que criamos sobre Vyni no "BBB 22" é entender a realidade do Brasil. Muitos Vinícius estão espalhados por aí e sentem que precisam se esconder a cada vez que o brother é esculachado por apenas ser quem ele é, supostamente gostar de um homem heterossexual e não ser correspondido. Fazer chacota de alguém como Vyni, com uma trajetória que passa por várias camadas, é cruel e de se lamentar que ainda não seja óbvio para a maioria.

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