Morreu nesta quinta-feira aos 73 anos, Glória Maria e deixou duas filhas adolescentes. A jornalista era mãe de Maria, 15 anos, e Laura, 14 anos. As duas foram adotadas em 2009 em uma viagem à Bahia. O processo levou por volta de 11 meses e fez com que Glória se mudasse para uma cidade mais próxima das meninas enquanto a documentação seguia em análise.
Em entrevista ao “Encontro”, Glória disse que nunca tinha pensado em ser mãe, mas, ao encontrar as duas, ela sentiu que eram suas filhas e que não sabia explicar a grandeza deste sentimento:
“Eu nunca quis ser mãe. O trabalho me preenchia, minha vida era perfeita. Elas surgiram por acaso. Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar.”
Morreu na manhã desta quinta-feira (2), sem nunca ter revelado a idade, a jornalista, repórter e apresentadora Glória Maria. A notícia do falecimento foi dada pela Globonews. Glória tratava de um câncer de pulmão. Em novembro de 2019, ela viria também a descobrir um tumor no cérebro, após sofrer um acidente doméstico. Glória Maria foi internada no dia 4 de janeiro para dar continuidade no tratamento, e na ocasião, a alta estava prevista para o dia 6 do mesmo mês. Na época, a Globo não informou o hospital ou clínica onde a jornalista estava internada.
Ela estava internada no hospital Copa Star, no Rio de Janeiro
Conhecida especialmente pelas centenas de viagens que fez pelo mundo recheando o “Fantástico” e “Globo Repórter” com excelentes reportagens, Glória Maria era o mais puro sinônimo competência, pois era pautada naturalmente pela curiosidade de saber e aprender. “O mais extraordinário é a possibilidade que o jornalismo te dá de aprender. É uma profissão em que você tem contato direto com todo tipo de emoção”, disse ela, em relato ao site Memória Globo.
Glória Maria Matta da Silva nasceu em 15 de agosto no Rio de Janeiro. Ao longo dos últimos anos, Glória sustentou uma brincadeira sobre não revelar a idade, afinal, na época em que tudo isso começou, ela já tinha 40 anos de carreira. Em 2016, em uma entrevista para a coluna de Patrícia Kogut, do jornal O Globo, a jornalista falou sobre o segredo dizendo que nunca pretenderia revelar.
‘Eu viajo o tempo todo. Aonde vou preciso mostrar minha identidade. Não tenho como esconder a idade. Todo mundo sabe, não existe mistério. Mas isso virou um folclore. Todos ficam intrigados porque tenho quase 40 anos de jornalismo. Três ou quatro gerações já me viram na TV. Então, pensam: ‘Essa mulher tem 200 anos’. O que vou fazer? Quando falo, ninguém acredita. Então, melhor não falar. Não vou tirar a ilusão de um país inteiro. As pessoas querem viver disso, vamos deixar, né?”, comentou.
E ainda brincou. “Isso vai me acompanhar até a morte. Nem quando morrer vou deixar falarem a minha idade, nem no Jornal Nacional”, afirmou. “Eu tenho uma regra: quando fizerem meu obituário no JN, a única coisa que não pode ter é a idade. Eu fiz todo mundo se comprometer comigo. Se, depois de morta, eles botarem a minha idade, puxo a perna de todo mundo”, acrescentou.
Glória Maria foi filha de um alfaiate com uma dona de casa. Durante a infância, estudou em colégios públicos. Formou-se em Jornalismo Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Naquela época, ela conciliava os estudos com o trabalho de telefonista na Embratel. Em 1970, por um incentivo de uma amiga, foi levada pela colega para ser rádio-escuta da Globo do Rio. Um ano depois, em 1971, já estava contratada.
Naquele ano, estreou como repórter na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. “Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”, contou ela.
Na emissora de Roberto Marinho passou pelo “Jornal Hoje”, “Bom Dia Rio” e no “RJTV”. No “Jornal Nacional”, foi a primeira repórter a aparecer ao vivo. Em 1986, entrou para o time do “Fantástico”, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. Na atração dominical viajou por mais de 100 países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando mostrou um mundo de novas descobertas ao telespectador de casa.
Após 10 anos no “Fantástico”, Glória Maria tirou dois anos de licença, um período sabático como ela mesma disse, para se dedicar a projetos pessoais. Nessa época, ela viajou para a Índia e a Nigéria, onde trabalhou como voluntária. De volta ao Brasil, adotou as filhas, Maria e Laura. Em 2010, já de volta à emissora, pediu para retomar o trabalho no Globo Repórter, onde seguiu realizando suas andanças pelos lugares mais diferentes do mundo.
Glória Maria ainda nos deixa entrevistas com grandes celebridades: Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio, Madonna, entre outros nomes. Também ao Memória Globo, Glória recordou como foi entrevistar a Rainha do Pop.
“Eu saí daqui e diziam que a Madonna era difícil. Foi antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”. A jornalista contou que tinha apenas quatro minutos de conversa com a cantora e, em pânico, falou. “Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada, acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua surpresa e sorte, a cantora virou-se para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que ela precisar”.
Em 52 anos de carreira Glória Maria fez de tudo: Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington e no Brasil, durante o período militar, entrevistou chefes de estado, como o ex-presidente João Baptista Figueiredo, cobriu a guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Em 2010, esteve no Grand Canyon, nos Estados Unidos, quando andou de balão e desceu de bote o rio Colorado. Foi à China, experimentou maconha na Jamaica (e virou meme), apresentou ainda o especial de Roberto Carlos na Praia de Copacabana, andou em camelos por diversos desertos. Sem contar as passagens que teve no Vietnã, Reino Unido, Suécia, Lapônia, Marrocos.
Em 2019, contou à Tatá Werneck ter 15 passaportes, todos eles carimbados. “Cada um nasceu para uma coisa e eu nasci para estar no mundo. “As minhas filhas dizem: ‘Mamãe, você não mora aqui. Você mora no avião’. Eu moro em casa, mas gosto do mundo. Eu gosto de viver no mundo, perdi a conta dos passaportes, devo ter uns 15 e já fui em 156 países”, contou a jornalista.
Em dezembro de 2021, Glória concedeu entrevista à revista GE onde falou sobre casamento. A repórter que ao longo da vida viveu diversos romances, muitos deles com homens estrangeiros, afirmou ser uma “mulher louca, rebelde, que não aceita viver sem liberdade”, chegando a mencionar que nunca foi ensinada a se casar em sua família, mas sim a fazer as próprias escolhas. “Ninguém me educou para casar e ter um marido. Minha família me educou para ser livre. Você não pode permitir que te coloquem correntes”, acrescentou a apresentadora.
Na ocasião, ela ainda falou sobre o câncer no cérebro. “Depois do tumor no cérebro, eu não vivo mais de sonhos. Eu vivo de realidade. Tenho muita coisa para realizar. Ganhei mais um ‘prazo de validade’. E estou aproveitando de todas as maneiras”, garantiu ela. “Eu tinha 30% de sobreviver, 20 de viver sem sequela. É minha vida, é a minha história. É intransferível. Ninguém pode viver por mim. E eu enfrento da maneira que ela se apresenta”.
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