Relacionamento Abusivo

Por Elisangela Niná - CRP: 120921/06

Estar em um relacionamento abusivo não quer dizer, necessariamente, apanhar. Na maioria das vezes a relação abusiva se apresenta através da “invasão” psicológica.

Esse tipo de relacionamento não é instalado de uma hora para outra, inicia-se com pequenos gestos de invasão, que são permitidos e reforçados pela própria vítima, sem que ela mesma perceba. Com o tempo, o abusador percebe que está ganhando território, e isso o faz sentir-se cada vez mais forte.

Tudo pode começar com “pequenas” solicitações sobre mudança de estilo de roupa, comportamentos, amizades, rotinas, relações familiares, sempre usando como base, argumentos de cunho sentimental do tipo: isso me ajudaria a sentir menos ciúmes, eu me sentiria mais seguro se fizesse dessa forma, ficaria mais confortável se parasse de frequentar tais lugares, preferiria que você fosse menos na casa desse familiar, etc.

Perceba que o abusador delega ao outro a função de sanar suas sensações negativas, se ausentando totalmente da responsabilidade pelas crenças que alimentam esses sentimentos.

A vítima começa a se apropriar dessa culpa e passa a ceder às solicitações, na tentativa de amenizar os afetos negativos de seu parceiro. Aos poucos o abusador vai utilizando dessa culpa para impor mais solicitações, e com o tempo vai ficando mais incisivo e autoritário para fazer valer sua vontade. Essa dinâmica é perigosíssima, pois a vítima começa a se desconfigurar, se tornando alguém muito diferente do que gostava de ser, e de repente se percebe sozinha, sem amigos, longe dos familiares, sem emprego, sem autoestima e muitas vezes, dependendo financeiramente do parceiro.

É importante ressaltar que a relação abusiva é construída de maneira sorrateira. Inicialmente o parceiro se apresenta de forma encantadora, com personalidade sedutora e confiante, fazendo com que a parceira, no caso a vítima construa todo um ideal de relacionamento com base nessa figura primária que lhe foi apresentada.

Nosso cérebro tende a fixar nessa figura idealizada, pois ela é recompensadora para o nosso sistema, ativa nossos neurotransmissores de prazer, de maneira extraordinária. Por esse motivo, para algumas pessoas é tão difícil desconstruir essa primeira imagem super recompensadora, biologicamente falando.

No meio do caminho, o abusador vai minando a autoestima da sua parceira, no intuito de mantê-la cada vez mais dependente dele. Sempre utilizando de argumentos depreciativos como: ninguém irá te dar o que eu te dou, você nunca será amada por alguém como eu te amo, quem irá te querer com esses filhos, ou com esse corpo, sem mim você irá morrer de fome etc.

Frases como essas, abalam e fragilizam o emocional de quem as recebem, gerando na vítima uma apropriação “cega” dessas crenças, que por sua vez, se tornam “amarras” invisíveis, cristalizando e enrijecendo a capacidade de movimento da vítima.

E como não cair nessa “teia” tão perigosa?

Primeiro ponto: ligue o sinal de alerta quando você se perceber abrindo mão com frequência de coisas que você fazia ou continuaria fazendo, se o outro não tivesse solicitado a você que deixasse de fazer. Do meu ponto de vista, essa é a forma mais eficaz de mensurar o quão inadequado está o tipo de relação que você está construindo. Lógico que há vários outros sinais a serem levados em consideração, porém tudo dependerá do quanto você abrirá mão de si mesma em prol da falsa sensação de paz na relação.

E não se esqueça, você não é responsável pelas inseguranças do outro, o outro é quem deve trabalhar suas próprias inseguranças, contestá-las, racionalizá-las para não ser dominado por elas, e se necessário buscar ajuda profissional para impedir que tais inseguranças descabidas o domine. É muito mais fácil culpar alguém do que se responsabilizar pelas próprias construções equivocadas.

Importante ressaltar que tanto homens quanto mulheres estão sujeitos a serem vítimas de relacionamentos abusivos, no entanto as taxas ainda são mais altas entre as mulheres.

Foto: Eduardo Martins (Tag Agency Group)

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