O esgotamento mental e emocional, popularmente conhecido como burnout, deixou de ser um problema exclusivo de profissões assistenciais, como médicos e professores. Cada vez mais, ele atinge também executivos, empresários, artistas, atletas e influencers — pessoas que vivem sob constante pressão para performar em altíssimo nível. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior número de casos de burnout no mundo, ficando atrás apenas do Japão. Estima-se que cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofram sintomas relacionados à síndrome.
Para entender melhor o fenômeno do burnout de alta performance e como ele impacta indivíduos bem-sucedidos, entrevistamos Rafael Schieber, psicólogo clínico especializado em saúde mental de profissionais de elite, com atuação focada em ajudar líderes, artistas e investidores a manterem a excelência sem sacrificar sua saúde emocional.
Entrevista com Rafael Schieber
Ego Brazil: Rafael, para começar: o que é, de fato, o burnout de alta performance? Ele é diferente do burnout que conhecíamos no passado?
Rafael Schieber:
O burnout de alta performance é uma manifestação do esgotamento emocional, físico e mental que ocorre em pessoas que operam sob pressão constante para entregar resultados extraordinários. A diferença principal é que, nesses casos, o esgotamento é mascarado pelo sucesso. A pessoa continua entregando resultados, acumulando conquistas — mas por dentro, está emocionalmente devastada. Muitas vezes, ela só percebe o problema quando já chega ao colapso, seja através de crises de ansiedade, depressão ou mesmo doenças físicas graves.
Ego Brazil: Quais são os sinais mais comuns que você observa nos seus pacientes de alta performance?
Rafael Schieber:
Muitos chegam descrevendo uma sensação de vazio, mesmo após grandes conquistas. Também é comum observar irritabilidade extrema, perda de motivação, distúrbios do sono e um cansaço que descanso nenhum parece resolver. Curiosamente, eles mantêm a fachada da eficiência — participam de reuniões, lançam projetos, fazem shows, operam negócios — mas internamente sentem que estão desmoronando.
Ego Brazil: Há dados sobre como o burnout tem afetado esses profissionais?
Rafael Schieber:
Sim, e são dados preocupantes. Um levantamento da Gallup com mais de *7.500 trabalhadores de alta performance nos EUA* apontou que *23% relataram sentir-se queimados no trabalho “muito frequentemente ou sempre”, enquanto outros **44% disseram sentir-se “queimados às vezes”. No Brasil, dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho mostram que os afastamentos por transtornos mentais, incluindo burnout, cresceram **30% nos últimos cinco anos*, sendo que profissões ligadas à gestão, tecnologia, saúde e mídia lideram o ranking.
Ego Brazil: Existe um perfil psicológico mais vulnerável ao burnout?
Rafael Schieber:
Sim. Pessoas altamente responsáveis, perfeccionistas, ambiciosas e com grande autocobrança tendem a ser mais suscetíveis. Profissões onde a imagem pública e a performance são constantemente avaliadas — como artistas, CEOs, atletas e influencers — criam o cenário perfeito para o burnout. São indivíduos que muitas vezes têm dificuldade em pedir ajuda, justamente porque estão acostumados a ser o apoio de todos ao redor.
Ego Brazil: E como a psicoterapia pode ajudar quem já está em burnout ou sente que está caminhando para isso?
Rafael Schieber:
A psicoterapia oferece um espaço seguro para que esses indivíduos possam baixar suas defesas, reconhecer suas limitações sem medo de julgamento, e reconstruir uma relação mais saudável com seu trabalho e suas ambições. Muitas vezes, é também um processo de redescoberta de identidade: quem sou eu além da minha performance? Quem sou eu além dos resultados que entrego? Quando essas perguntas são trabalhadas, a cura verdadeira começa a acontecer.
Ego Brazil: Existe um mito entre empresários, atletas e artistas de que “parar” é um sinal de fraqueza. Como você lida com isso no consultório?
Rafael Schieber:
Esse é um ponto muito sensível. Eu costumo mostrar que autocuidado não é fraqueza, é estratégia. Um empresário, por exemplo, precisa estar no seu melhor estado físico e emocional para tomar boas decisões. Um artista precisa estar emocionalmente estável para criar com autenticidade. Se o objetivo é sustentar o sucesso a longo prazo, cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar dos negócios ou da carreira.
Ego Brazil: Que mensagem você deixaria para quem, lendo esta matéria, se identificou com esses sinais?
Rafael Schieber:
Eu diria que sucesso sem saúde emocional é uma conta que chega — e costuma ser alta. Cuidar de si é um ato de inteligência e coragem. Reconhecer que precisa de apoio é o primeiro passo para construir uma trajetória ainda mais sólida, equilibrada e, acima de tudo, humana.
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