A pressão global por soluções sustentáveis deixou de ser apenas um debate ambiental para se tornar um problema científico, econômico e tecnológico de primeira ordem. A redução das emissões de carbono, o reaproveitamento de resíduos e a busca por fontes alternativas de energia exigem abordagens capazes de integrar eficiência, escalabilidade e impacto ambiental mensurável. A resposta para essas questões vem de um organismo microscópico: as microalgas.
Nesse contexto, a pesquisa com esses distintos microrganismos tem se consolidado como uma das frentes mais promissoras da biotecnologia aplicada — e é nesse campo que se insere o trabalho da pesquisadora Ihana de Aguiar Severo.
“As microalgas permitem transformar problemas ambientais em oportunidades produtivas”, afirma Ihana. “Elas capturam CO₂, tratam efluentes e ainda geram biomassa de valor agregado, que pode ser utilizada para diferentes propósitos.”
O problema: emissões, resíduos e limites dos modelos tradicionais
Processos industriais e sistemas energéticos tradicionais continuam altamente dependentes de recursos fósseis e geradores de resíduos difíceis de tratar. Mesmo tecnologias consideradas “verdes” enfrentam limitações como custos elevados, baixa eficiência, dificuldade de integração com infraestruturas já existentes e desafios de escalabilidade. A necessidade de soluções que não apenas mitiguem impactos, mas também transformem passivos ambientais em ativos produtivos, tornou-se um dos principais desafios científicos contemporâneos.

Microalgas como solução biotecnológica integrada
O diferencial dos processos baseados em microalgas, explica a pesquisadora, está no caráter multifuncional.
As microalgas apresentam características que as tornam particularmente adequadas para enfrentar esses desafios. Capazes de realizar fotossíntese de forma altamente eficiente, elas convertem dióxido de carbono em biomassa rica em lipídios e proteínas — compostos de grande interesse industrial. Essa biomassa pode originar biocombustíveis, insumos para a indústria alimentícia e agrícola, compostos bioativos e diversos outros materiais de alto valor agregado. Ao mesmo tempo, os cultivos microalgais funcionam como sistemas de biorremediação, tratando águas residuárias e capturando emissões industriais.
“Não se trata apenas de reduzir impactos”, diz Ihana. “É mostrar que resíduos podem voltar ao ciclo produtivo.”
A lógica científica que sustenta essas aplicações é a da economia circular: resíduos deixam de ser um problema final e passam a integrar ciclos produtivos sustentáveis, reduzindo impactos ambientais e custos, além de ampliar a eficiência dos processos.
Formação em universidades de referência e impacto além da academia
É nesse cenário que se destaca a atuação da Dra. Severo. Sua trajetória acadêmica foi construída em instituições com forte tradição científica. Ela iniciou sua formação na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em Ciência e Tecnologia de Alimentos; aprofundou pesquisas e parcerias na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia Autossustentável (NPDEAS), durante o pós-doutorado; e expandiu sua atuação internacional na Florida State University (FSU), no Center for Advanced Power Systems (CAPS), nos Estados Unidos. Durante sua passagem pela UFPR e pela FSU, Ihana colaborou com grupos liderados por pesquisadores de referência, em projetos desenvolvidos com o apoio do CNPq e do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE).

Nessas instituições, sua pesquisa avançou na integração entre biotecnologia, energia e meio ambiente, incluindo tecnologias de captura de carbono e o uso de microalgas em sistemas de produção sustentável. O trabalho resultou em publicações científicas, colaborações internacionais e no registro de patente envolvendo aplicações de microalgas — um indicativo de que o conhecimento acadêmico foi convertido em inovação tecnológica.
Da pesquisa ao mercado: aplicação industrial
Atualmente, Ihana atua como especialista no cultivo de microalgas na AstaReal Inc. (EUA), empresa reconhecida globalmente pela produção de astaxantina, pigmento de alto valor comercial.
Na prática, seu trabalho envolve a otimização de sistemas de produção de microalgas, com foco em eficiência e estabilidade operacional.
“É um passo decisivo: levar o que desenvolvemos na academia para sistemas que realmente operam em escala”, explica.

Segundo a pesquisadora, o avanço desse campo depende da otimização contínua dos processos, da adaptação a diferentes contextos industriais e da comprovação de viabilidade em escala — etapas fundamentais para que a tecnologia deixe o laboratório e se consolide como uma solução amplamente adotada.
“Quando a indústria comprova que funciona, a sociedade — que é consumidora desses produtos — ganha confiança, e a tecnologia avança.”
A pesquisa com microalgas, nesse sentido, não se limita a uma promessa teórica. Ela representa uma estratégia científica concreta para enfrentar desafios ambientais complexos, articulando inovação, sustentabilidade e aplicação prática — exatamente o tipo de abordagem que vem moldando a agenda científica internacional nas últimas décadas.

Principais Publicações
Artigo 1: Biodiesel facilities: What can we address to make biorefineries commercially competitive? — Revista internacional de alto fator de impacto na área de energia renovável e sustentável; amplamente citado pela comunidade científica.
Artigo 2: Microalgae-derived polysaccharides: Potential building blocks for biomedical applications — Artigo de revisão sobre a produção de polissacarídeos derivados de microalgas com atividade biológica para aplicações biomédicas.
Artigo 3: Disruptive potential of microalgae proteins: Shaping the future of the food industry — Revisão que consolida o uso de proteínas de microalgas na indústria de alimentos, os principais produtos comercializados e o cenário de patentes.
Artigo 4: Bio-combustion of petroleum coke: The process integration with photobioreactors — Pesquisa sobre a integração de fotobiorreatores de microalgas em sistemas de combustão industrial para captura de carbono.
Artigo 5: Wastewater treatment process using immobilized microalgae — Estudo que avalia o aproveitamento de resíduos sustentáveis e a produção de biomassa.
Livro internacional: Microalgae Horizons: Fundamentals, Innovations, and Industrial Applications — Obra publicada pela Springer Nature, reunindo pesquisadores renomados da área de microalgas em escala global.
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