O ator Igor Rickli e Aline Wirley discutiram sobre bissexualidade, relacionamento aberto e como a trajetória deles influenciou o musical ‘É o Amor’, em exibição na cidade de São Paulo. Juntos há 14 anos, Igor Rickli, com 40 anos, e Aline Wirley, com 42, estão comemorando o amor de maneira mais experiente.
Em uma entrevista aberta com a Quem, os artistas compartilharam sobre a trajetória que os levou ao estágio atual da união, que serviu de base para o novo empreendimento profissional deles. Além disso, o par justificou a escolha de tornar pública a bissexualidade e a prática de relacionamento aberto que adotam. Remexendo em memórias dolorosas, o ator também compartilhou que enfrentou abuso sexual durante a infância.
A dupla se encontrou pela primeira vez durante a produção teatral Hair, em 2010. A amizade entre eles floresceu e, com o tempo, se transformou em um romance. Mais de dez anos depois, resolveram unir forças novamente para atuar em conjunto na peça É o Amor, que está em exibição no Teatro Procópio Ferreira, localizado em São Paulo.
Neste momento, o que mais percebo entre nós é a evolução como indivíduos, como um casal e, também, explorando a criação de um espetáculo. Esta é uma fase feliz, pois celebramos nosso amor e nossa trajetória de múltiplas maneiras, em diversas facetas, como artistas, como pais e como pessoas que acreditam na força do amor, que gera transformações”, revelou a cantora. O ator complementou: “Estamos nos permitindo ser mais autênticos do que antes. Costumávamos ser mais reprimidos, tentando agradar aos outros.”.
O enredo do espetáculo é pautado pela história do casal, no entanto, não se limita a isso. Aline e Igor revelaram, no ano passado, que são bissexuais e optaram por manter um relacionamento aberto. Compartilhar essa informação publicamente trouxe-lhes alívio. Segundo o ator, ao se tornarem influenciadores, sentiram a necessidade de abordar o assunto de forma mais clara. O objetivo não era causar polêmica ou chamar atenção, mas sim enfatizar o direito à existência, à liberdade, ao respeito e ao espaço de cada um.
A integrante passada do grupo Rouge explicou que muitas pessoas acreditam que é fácil compartilhar publicamente detalhes sobre seu casamento e vida sexual, mas a verdade é diferente. Ela afirmou: “A situação é mais complicada do que parece. Durante minha participação no BBB [23], fiquei surpresa ao ver tudo que acontecia. Foi um processo interno de aceitação, de não querer mais viver na mentira, de sermos autênticos. Isso funciona para nós. Não queremos impor nossa relação a ninguém, só queremos mostrar que é possível ser feliz assim.” “Para nós, fidelidade é fundamental.”
Para Igor, descrever o funcionamento de um relacionamento aberto não é tarefa simples. O ator ressaltou que acredita ser algo incompreensível para a maioria das pessoas. Em sua visão, essa dinâmica requer diversas variáveis e acordos específicos. Ele enfatizou que a abordagem em relação à sexualidade sempre foi tratada com sensibilidade, longe de ser apenas uma questão de permissividade, mas sim um caminho em busca de cura. Ambos os parceiros carregam experiências pessoais profundas e dolorosas, o que os levou a desenvolver um cuidado especial em relação à sexualidade.
Dentro do combinado entre o casal, é proibido mentir e ser desleal. “Eu e Aline temos um compromisso de nunca enganar um ao outro, estamos juntos nessa jornada com base na confiança mútua”, disse Igor. A artista concordou, acrescentando que a conexão entre eles se tornou mais forte por terem sido capazes de se apoiar nos momentos difíceis.
Reconhecimento da identidade sexual bissexual.
Crescer com incertezas sobre sua orientação sexual apresentou desafios para Igor, porém, ao encontrar sua esposa, ele finalmente se sentiu compreendido. “A Aline sempre demonstrou ser uma mulher muito empática e de grande inteligência emocional. Quando nos conhecemos, ela percebeu o quanto era doloroso para mim lidar com a minha bissexualidade, tendo que agir de forma convencional. Isso me causava muita pressão. Ela notou isso e teve um cuidado especial comigo. Eu era um garoto do interior do Paraná, que enfrentou situações de preconceito na infância, sendo chamado de termos pejorativos. Por isso, desenvolvi várias formas de defesa. Ela teve muita sensibilidade comigo e eu também fui capaz de compreender sua trajetória”, compartilhou.
Aline também se identifica como bissexual, porém, para ela, as dificuldades enfrentadas no passado são diferentes: “Carrego outras marcas, sendo uma mulher negra. Testemunhei e presenciei na minha família a solidão vivida pelas mulheres negras. Estamos juntos há 14 anos, sendo uma mulher negra muito amada nesse relacionamento. Temos uma troca mútua, somos parceiros, compartilhamos risadas, é nesse contexto que acreditamos no amor. Vai além de um simples relacionamento possessivo. Ele realmente busca a minha felicidade. E juntos, fortalecemos nossa individualidade como parceiros”.
Cuidado com as crianças.
O par, que completou recentemente um processo de adoção, agora tem três crianças: Antonio Caramelo, Fátima e Will. Eles afirmaram que lidam de forma natural com questões relacionadas à sexualidade em casa. “Vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, sendo pais de dois rapazes. Antonio tem 10 anos e Will, sete. Queremos que eles cresçam em fluidez, sem precisar desaprender nada. Já percebemos isso com Antonio e como ele interage com nossos amigos diversos. Tudo é fluido para ele, o que é muito especial”, disse Aline. Igor complementou que além de tratar com naturalidade e respeito, eles respeitam o ritmo de seus filhos. “Para nós, a infância é uma fase sagrada. Nossa história com a sexualidade sempre foi complicada, com muitos traumas e abusos, o que nos faz abordar delicadamente o assunto com nossos filhos”, afirmou o ator, que também foi vítima de abuso sexual na infância.
“Carrego uma bagagem extremamente pesada até este momento. Os abusos provocam uma reviravolta significativa em sua vida. Tive esse tipo de experiência na minha juventude. São situações que deixaram marcas profundas em minha vida aqui na Terra e me fizeram enxergar as coisas de maneira diferente. Na época, eu tinha a mesma idade que meu filho mais novo”, compartilhou. “Isso aconteceu várias vezes e tudo isso me fez passar por momentos muito difíceis, onde me senti completamente sozinho e incapaz de me expressar.”
O artista revelou que durante anos carregou um sentimento de culpa, apesar de ter sido a parte prejudicada na situação. Segundo ele, chegou a acreditar que havia algo errado consigo mesmo, desencadeando uma série de gatilhos emocionais. Com o passar do tempo, percebeu que esse sentimento de culpa o limitava e dificultava sua confiança nas pessoas e em si mesmo. Apesar do caos e da dor, ele enfatizou a importância de superar esses sentimentos e se permitir seguir em frente.
