O cantor João Gomes, de apenas 23 anos, voltou a falar abertamente sobre episódios de preconceito que enfrentou ao longo de sua trajetória artística. Natural de Pernambuco e hoje um dos principais nomes do piseiro no país, o artista concedeu uma entrevista à revista GQ diretamente de Las Vegas, nos Estados Unidos, onde esteve para receber o Grammy Latino pelo projeto “Dominguinho”, premiado na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa.
Durante a conversa, o pernambucano refletiu sobre sua relação com a fama e sobre os desafios que surgem quando se ocupa um espaço de destaque na música brasileira — especialmente sendo um jovem nordestino que representa ritmos frequentemente subestimados pela indústria e pelo público do eixo Sul-Sudeste. Segundo o artista, lidar com críticas e comentários preconceituosos se tornou parte do processo de amadurecimento que ele vem vivendo nos últimos anos.
Ao relembrar o início do projeto que o levou à vitória no Grammy Latino, João Gomes afirmou que já imaginava a repercussão positiva entre o público. Para ele, tratava-se de um trabalho construído com verdade, identidade e referências que dialogam diretamente com a cultura nordestina. “Nem todo mundo vai escutar, mas quem ouvir vai gostar… Mas tem quem não goste, viu?”, disse, destacando que, para além da recepção calorosa, sempre existe um grupo que rejeita o que foge dos padrões comerciais.
Essa rejeição, segundo o artista, não é apenas estética — é também cultural. João Gomes ressaltou que tanto o piseiro quanto o forró ainda são alvos constantes de ataques e estereótipos, algo que, para ele, está enraizado na forma como parte da sociedade ainda enxerga o Nordeste. “São dois ritmos que até hoje sofrem muito preconceito”, afirmou.
Para exemplificar, o cantor relembrou um episódio marcante vivido durante um ensaio em um dia extremamente quente. Ele contou que, em meio ao calor, ouviu uma “brincadeira” que o deixou desconfortável: alguém sugeriu que sua equipe deveria estar acostumada a trabalhar sob condições extremas “por ser nordestina”. A declaração, carregada de estigmas e desinformação, o fez refletir sobre o tipo de ignorância que ainda persiste mesmo em ambientes profissionais. “Pensei: ‘Caramba, velho, foi isso mesmo?’”, disse o cantor.

Apesar disso, João Gomes reforça que acredita no poder transformador da música e na força da representatividade. Para ele, artistas nordestinos precisam seguir abrindo caminhos, assim como fez Luiz Gonzaga, referência que sempre cita em seus discursos. “A gente precisa fazer a nossa parte através da música e ganhar nosso espaço, assim como Gonzagão fez. Mas sempre foi difícil. Sempre vão nos menosprezar por causa da ignorância. As pessoas pensam que, de onde viemos, é só mato. Então, devemos continuar falando de coisas positivas”, completou.
O processo de amadurecimento do cantor, no entanto, não veio apenas com o tempo, mas também com ajuda profissional. Em outro trecho da entrevista, João Gomes revelou que passou por um período de reorganização emocional com apoio de terapia e acompanhamento psiquiátrico. Esse movimento, segundo ele, foi essencial para reencontrar equilíbrio e enxergar o futuro de maneira mais leve e esperançosa. “Estou em uma vibe muito positiva sobre o meu futuro. Sinto que tem um bocado de coração conectado ao meu”, afirmou, demonstrando gratidão pelo carinho que recebe do público.
A vitória no Grammy Latino, para ele, não é apenas um marco profissional, mas um símbolo de resistência cultural. Ao levar o piseiro e as raízes nordestinas a uma premiação internacional, João Gomes sente que contribui para ampliar a visibilidade de artistas e gêneros musicais que ainda lutam contra barreiras históricas. Suas palavras reforçam a importância de ocupar espaços, desconstruir preconceitos e celebrar a diversidade que compõe a música brasileira.
Com uma carreira ainda jovem, mas já marcada por conquistas expressivas, o cantor segue firme na missão de honrar suas origens, representar seu povo e fortalecer a cultura do Nordeste no cenário nacional e internacional.
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