Mulher preta e periférica, Débora Santos da Conceição encontrou na advocacia um caminho de empatia e reconstrução, unindo técnica jurídica e compromisso social na defesa da dignidade das mulheres
Desde menina, Débora Santos da Conceição sabia o que queria ser. A semente da advocacia foi plantada quando assistiu ao filme Os Acusados, que retrata a luta de uma mulher por justiça após um estupro coletivo. A força da personagem e a dureza do sistema judicial ficaram gravadas em sua memória. “Aquela história me marcou profundamente, não apenas pela força da personagem, mas pela importância da justiça como instrumento de transformação social”, recorda.
Mas o caminho até o Direito foi longo e desafiador. Mulher preta e periférica, Débora cresceu em um ambiente onde o sonho de ser advogada parecia distante. As dificuldades financeiras a levaram, primeiro, à sala de aula: formou-se em Licenciatura em História e iniciou a carreira como professora na rede pública municipal. A docência lhe deu outra perspectiva sobre o país que a cercava. “A educação me abriu portas e me fez compreender de perto as desigualdades e as lutas cotidianas que muitas pessoas enfrentam”, conta.
Foi nesse contato com realidades tão diversas que o sonho antigo voltou a pulsar. Com estabilidade e maturidade, Débora decidiu finalmente realizar o propósito que havia sido adiado. Entrou para o curso de Direito com a consciência de quem conhecia as dores sociais por dentro e com o compromisso de fazer diferença. “Hoje, cada caso, cada cliente e cada conquista reafirmam a escolha que fiz: a de lutar por justiça, com sensibilidade, coragem e compromisso com quem mais precisa ser ouvido.”

Um episódio pessoal redefiniu o sentido de tudo. Débora viveu um relacionamento abusivo, experiência dolorosa que transformou em aprendizado e combustível. “Vivenciar, na pele, as sutilezas e violências de uma relação marcada pelo controle e pela tentativa de anulação me fez enxergar com mais profundidade o quanto o sistema de justiça precisa ser acessível, sensível e acolhedor”, relata. O que poderia ter sido apenas uma ferida virou ponto de virada: “Compreendi que o Direito não é apenas um campo de estudo, mas uma ferramenta de reconstrução, individual e coletiva.”
A partir daí, sua advocacia passou a carregar um propósito ainda mais claro. Especialista em Direito de Família, Débora dedica seu trabalho principalmente ao atendimento de mulheres em situação de vulnerabilidade. Também possui especialização em Direito Penal e Processo Penal, com estudos voltados à relação entre raça e gênero, o que reforça sua visão sobre a importância da representatividade e do acesso igualitário à justiça. Em cada processo de divórcio ou ação de alimentos, há mais do que um caso jurídico: há uma história de superação e busca por dignidade. “Pra mim, cada sentença em que a cliente sente que sua demanda importa traz sentido ao meu trabalho.”
Sua trajetória pessoal e profissional se entrelaçam de forma natural. A experiência como professora e historiadora, com especialização em História da África, deu a ela uma escuta refinada para as complexidades humanas e sociais. “Eu acredito que advogar é, antes de tudo, compreender o contexto de quem se busca defender”, afirma. Essa visão transforma sua prática jurídica em um espaço de acolhimento, onde empatia e técnica caminham juntas.
Débora se define como uma advogada de atuação humana, acolhedora e comprometida. Busca unir conhecimento jurídico e sensibilidade social, oferecendo um atendimento próximo, transparente e atento às necessidades de cada pessoa. “A lei prende os injustos, mas também protege”, costuma dizer. E complementa: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.” Essas máximas refletem o coração de sua prática, guiada pela convicção de que o Direito deve servir às pessoas, e não o contrário.
Seu símbolo profissional, o Epa, representação africana de força e proteção, sintetiza o que oferece em cada caso: amparo jurídico aliado à defesa da dignidade humana. “Justiça e humanidade caminham juntas”, resume. Não é apenas uma frase, mas uma convicção construída por quem transformou a própria dor em ferramenta de luta.

Hoje, além de advogada, Débora é palestrante sobre questões de gênero e raça. Fala a partir do lugar de quem viveu o que defende e de quem acredita que o Direito só cumpre sua função quando é capaz de alcançar quem mais precisa dele. Em cada audiência e em cada conversa com uma cliente, há ecos da menina que se emocionou diante de um filme e decidiu que justiça não seria apenas uma promessa distante, mas uma causa viva conduzida com coragem, empatia e propósito.
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