Mateus Solano ressalta a importância da representatividade 10 anos após o 1º beijo gay

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Há 10 anos, o cenário televisivo brasileiro se transformou quando Mateus Solano e Thiago Fragoso protagonizaram o primeiro beijo gay entre Félix e Niko, seus personagens em Amor à Vida, da TV Globo. Esse momento histórico não apenas rompeu barreiras, mas também abriu caminhos para uma maior representatividade na mídia, promovendo discussões importantes sobre diversidade e inclusão.

Em entrevista Mateus Solano relembra o marco da cena e menciona o legado que deixou na cultura televisiva brasileira. “O impacto foi gigante. Não só na minha vida, mas também na de muita gente que assistiu e que ainda hoje vem emocionada me dar um abraço e agradecer pelo que o personagem conseguiu suscitar de discussão ou de resolução em situações de intolerância dentro da família”.

A cena foi ao ar no último capítulo da novela, escrita por Walcyr Carrasco, e foi revelado que algumas versões do beijo foram gravadas e exibidas antes para Manoel Martins, chefe do departamento artístico da Globo na época. A cena aprovada foi um beijo que remetia ao protagonizado por Tarcisio Meira e Gloria Maria, nos primórdios da TV.

Ao ser questionado sobre o processo para dar vida a Félix, ex-vilão que passou por um arco de redenção e descobrimento de sua sexualidade, o ator conta que não precisou de uma preparação especial para interpretar um personagem homossexual.

“Não acredito que ninguém precise se preparar exatamente para isso. Fui atrás das nuances da personalidade de Félix, como alguém a quem faltou carinho, atenção e compreensão. Daí também nasce o ódio à irmã, sempre bajulada e preferida e nasce também seu ódio à sociedade que não o aceita como é”, explica Solano.

Félix ( Mateus Solano ) E Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Reprodução
Félix ( Mateus Solano ) e Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Reprodução

Avanços na dramaturgia brasileira

Questionado sobre o progresso, o ator comenta: “Creio que a história avança em soluços, aos trancos e barrancos. O ser humano sempre teve muito medo da mudança e do que é diferente. Se por um lado as tradições são fundamentais para a construção do indivíduo e da sociedade, por outro lado, é justamente a derrubada de certos muros e a expansão desses limites que permite a nossa evolução enquanto espécie. Mas é assustador como o amor entre duas pessoas pode ser, ainda hoje, aos olhos de muitos, uma coisa subversiva no mau sentido”.

Mesmo após anos, a maneira como os personagens foram bem recebidos pelo público ainda é lembrada pelo ator, que comenta como foi a reação das pessoas. “A resposta foi absolutamente positiva e vimos muita gente preconceituosa pedindo para que os dois terminassem juntos, apesar desses preconceitos”, menciona.

Félix ( Mateus Solano ) E Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Globo/Estevam Avellar
Félix ( Mateus Solano ) e Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Globo/Estevam Avellar

A reação do público é uma prova de como a visibilidade de relacionamentos saudáveis entre personagens LGBTQIAPN+ nas novelas pode impactar as percepções sociais sobre essas comunidades. Para abordar o tema com profundidade, conversamos com Andrea Mara O. N. Teixeira, psicóloga e psicanalista clínica, que analisou a importância desse representação nas telas.

“As telenovelas fazem parte da cultura brasileira. Algumas telenovelas trazem pautas importantíssimas para a sociedade — não é apenas uma forma de entretenimento. Nesses aspectos, retratar nas telenovelas relacionamentos saudáveis entre personagens LGBTQIAPN+ é extremamente importante para finalmente acabar com qualquer estigma preconceituoso que exista em relação a essas comunidades. Todos precisam ver que relacionamentos que fogem do ‘padrão heteronormativo’ podem sim ser saudáveis, maduros e felizes. O sucesso de uma relação independe da orientação sexual dos envolvidos, mas depende, sim, da maturidade e do comprometimento dos indivíduos”, afirma a especialista.

Mateus Solano ainda frisa como a representatividade nas dramaturgias é necessária no cenário atual. “As novelas pretendem espelhar e são um lugar histórico de discussão da sociedade brasileira. Excluir casais LGBTs nas novelas não só é hipócrita, mas também extremamente empobrecedor. Representatividade é visibilidade e a comunidade LGBT só pode ser aceita pela sociedade se não for invisibilizada, da mesma forma que discutimos e naturalizamos tantas coisas nas novelas, a comunidade LGBT também precisa ser naturalizada”, avalia o ator.

Na mesma linha do artista, Andrea ainda menciona a importância da representatividade para influenciar a autoestima e a identidade de indivíduos LGBTQIAPN+. “A representatividade é a possibilidade de admirar pessoas com quem exista certa identificação ocupando locais de sucesso, de forma que o indivíduo possa compreender que esses lugares também podem ser ocupados por ele. As telenovelas inegavelmente fazem parte da cultura brasileira. Contudo, infelizmente, a representatividade de indivíduos LGBTQIAPN+ ainda não ocorre de maneira satisfatória”, inicia ela.

“Diferentemente dos casais heteronormativos, raramente relacionamentos LGBTQIAPN+ são retratados como relacionamentos saudáveis, maduros e felizes. Nesse sentido, a representatividade gay nas telenovelas é extremamente importante para a autoestima e a identidade dos indivíduos LGBTQIAPN+, principalmente do público mais jovem que está formando sua percepção de mundo. Porque nesse aspecto eles verão que esse local, de um relacionamento saudável e maduro também pode ser ocupado por eles — como de fato o é na sociedade”, conclui a psicóloga.

Félix ( Mateus Solano ) E Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Globo/Estevam Avellar
Félix ( Mateus Solano ) e Niko ( Thiago Fragoso ) — Foto: Globo/Estevam Avellar

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