Das lembranças mais remotas que tem do Recife, Ney Matogrosso ainda recorda do cheiro de jenipapo que tomava sua casa, no bairro de Casa Amarela, onde morou, por volta dos cinco anos de idade (o pai, militar, se mudava com frequência com a família, que residiu por aqui nos 1940).
A rua, lembra ele, era apinhada de jenipapeiros que espalhavam seu aroma ao frutificar. Aos 81 anos, Ney coleciona inúmeras memórias do Recife, onde esteve por várias vezes, como cantor. Hoje (17), ele vai marcar mais um ponto de memória na vida, voltando à Capital pernambucana com o show “Bloco na Rua”, que apresenta no Teatro Guararapes, às 20h30.
No palco somente festa
É a terceira vez que Ney traz “Bloco na Rua” ao Recife (antes, em 2019 e 2021), mas, com uma diferença: em um Brasil recém-saído da pandemia e de um momento político, no mínimo, conturbado.
“O show agora é mais alegre do que era”, pontua Ney. “Antes, ele tinha um tom mais político, e eu não tenho esse hábito, mas eu senti necessidade naquela hora”, diz. “Hoje em dia, não. É uma festa! E isso se deve a um outro momento que o Brasil está vivendo. Longe da pandemia, isso tudo ficou pra trás, não precisa de tristeza mais, né?”.
Repertório clássico
“Bloco na Rua” estreou em 2019 e passou a pandemia em stand by. Voltou em 2021 e hoje traz sutis mudanças no set list. Algumas músicas saíram, outras entraram: “Poema”, “Ex amor” e “Homem com H” voltam a ser cantadas por Ney. A espinha dorsal do show continua, com sucessos do cantor e de outros artistas brasileiros. O abre-alas é a música-título do show, a mais conhecida do capixaba Sérgio Sampaio.
Ney traz duas canções da amiga Rita Lee, falecida em maio deste ano. No entanto, “Jardins da Babilônia” e “Corista de rock” já estavam na turnê desde o início. “Para algumas pessoas pode soar como uma homenagem póstuma, mas eu já celebrava Rita Lee antes”. “Eu gravei dez músicas da Rita. Na verdade, é uma homenagem para uma compositora brasileira que eu gosto muito. Antes de ela morrer, eu já tinha um imenso prazer de cantar as músicas dela”, conta Ney, que chegou a declarar: “Eu olho para a Rita e eu acho uma alma gêmea”.
Outra velha conhecida do repertório de Ney é “Sangue Latino”, herdada dos Secos & Molhados, cujo disco de estreia acaba de completar 50 anos. Mas, também há um sabor diferente em cantá-la atualmente. “Hoje em dia, eu sinto que é mais verdadeiro pra mim do que quando gravei. Na época, eu não falava de mim, eu não tinha vivido o suficiente pra ter do que falar. E hoje em dia, parece que eu tô falando de mim mesmo”, confessa.
O público vai ter a oportunidade de voltar a cantar com Ney clássicos como “A maçã” (Raul Seixas), “Pavão Mysteriozo” (Ednardo), “Como 2 e 2” (Caetano Veloso), entre outros clássicos da música brasileira.
Homenagens ao artista
Aos 81 anos de idade, Ney continua sendo símbolo de liberdade e transgressão de comportamento. A persona que há 50 anos está surpreendendo nos palcos, tem sido foco de homenagens, como o musical “Ney Matogrosso – Homem com H”, que pontua parte da trajetória de Ney através de canções emblemáticas do seu repertório. “Homem com H” também é o nome da cinebiografia que está em produção, com direção de Esmir Filho.
Sobre esses trabalhos que o reverenciam, Ney considera: “Eu fico feliz de a minha vida ainda ter uma repercussão. Mas, é isso: tô vivo ainda, né? Eu prefiro receber isso agora, enquanto tô vivo. Depois que eu morrer, não me interessa mais. Não vai significar mais nada. Já estarei além do ácido, né isso?”
SERVIÇO
Ney Matogrosso, com “Bloco na Rua”
Quando: quinta (17), às 20h30
Onde: Teatro Guararapes – Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N – Salgadinho, Olinda – PE
Ingressos: Setor Plateia Especial (filas AA a BB) – R$ 448 (inteira) e R$ 224 (meia-entrada); Setor Plateia (filas BC a BQ) – R$ 408 (inteira) e R$ 204 (meia-entrada); Setor Balcão – R$ 368 (inteira) e R$ 184 (meia-entrada), na bilheteria do teatro e no Sympla