Exclusivo! Rafael Cortez fala sobre carreira e o poder da Atitude Transformadora

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Jornalista, humorista e palestrante, Rafael Cortez compartilha reflexões sobre insegurança, autismo e o impacto de sua nova obra, que leva ao público lições valiosas sobre atitude e transformação

Rafael Cortez, conhecido por sua trajetória diversificada que inclui jornalismo, stand-up, televisão e o mercado corporativo, compartilha suas experiências e visão sobre transformação pessoal e profissional. Em uma entrevista exclusiva para a jornalista Le Ferrarez pelo EGOBrazil, ele revela os desafios que enfrentou ao longo de sua carreira multifacetada, a inspiração por trás de seu livro Atitude Transformadora e o impacto das suas palestras no público. Além disso, Cortez fala sobre temas pessoais, como a relação com seu irmão autista, e oferece conselhos valiosos para aqueles que buscam superar a insegurança e alcançar suas metas.

Ao longo de sua carreira, você transitou entre jornalismo, stand-up, televisão e, agora, o mercado corporativo. Como esses diferentes contextos moldaram sua visão sobre atitude transformadora?

Eu transitei e sigo transitando. Um erro muito comum quando as pessoas pensam na minha carreira é pensar que eu saí de um mercado para entrar em outro, e eu nunca saio por completo de nada. Eu acredito ainda que é possível somar experiências, somar formações. Então eu não estou forte em TV agora, mas eu estou forte no corporativo. Não significa que eu não possa fazer TV fortemente ano que vem, por exemplo, ou que eu não possa lançar um novo disco de música. Em breve, entende? Eu continuo acreditando no perfil multifacetado do artista. Eu acho que quanto mais um artista tiver formações diferentes, experiências diferentes na sua formação profissional, mas ele vai ter repertório. O repertório é, para mim, o grande DNA, o grande diferencial de um grande artista. Eu sempre falo do Jô Soares. Quando Jô Soares faleceu, todo mundo lamentava a perda do comediante, a perda do apresentador, e eu falei. Eu lamento a sentido da perda, a partida do grande cara de conteúdo que ousou poder entrevistar uma bordadeira do norte do país, um chefe de cozinha, um ator, um filósofo, um neurocientista e ele tinha como conversar com todas as pessoas de todos os programas, porque de alguma maneira ele tinha conhecimento sobre tudo aquilo que era um cara com repertório. Então as minhas somas, os acréscimos profissionais da minha carreira trazem para mim repertório, que para mim é fundamental, eu não posso viver sem repertório, senão eu não vou conseguir produzir bem.

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O que a motivou a escrever Atitude Transformadora após quase 30 anos de carreira? Houve algum momento específico que a inspirou a compartilhar essas reflexões?

O que me motivou a escrever A Atitude Transformadora foi a necessidade de deixar a minha palestra de mesmo tema e de mesmo nome redonda. Eu acho que uma das maneiras de realmente fazer uma coisa ficar 100% orgânica no seu pensamento é você escrever sobre ela. Isso quem diz para o meu cérebro é o meu lado jornalista, porque eu sou jornalista formado pela PUC. Mas também é uma coisa intuitiva. Até hoje eu sou um cara que se quero pensar direito em algo, se eu quero me expressar direito sobre algo, eu preciso escrever sobre isso. Se eu estiver muito magoado com alguma coisa ou com alguém, eu possivelmente vou escrever sobre isso, porque eu vou mastigar cada palavra, eu vou reler isso, eu vou entender o que está acontecendo e consequentemente eu vou refletir melhor sobre isso. E quando eu estava compondo a minha palestra A Atitude Transformadora, eu ensaiei a palestra e tinha uns pontos meio falhos, tinha uns pontos incongruentes. E eu comecei a escrever sobre isso e comecei a me dar conta que tinha pontos incongruentes. Contendo por um livro. Eu falei, peraí, então, sob pretexto de consolidar minha palestra, vou escrever o livro. E a palestra saiu muito antes até do que o livro, porque houve um momento que o livro estava escrito e a palestra, consequentemente, estava redondinha porque estava super ancorada pelo conhecimento do livro, mas um livro demora para sair, né? Então a palestra foi na frente, assim, e o livro estava sendo lido e relido e passando por revisões e passando por jurídico, de editora, até finalmente ir para a gráfica, prensa e finalmente chegar ao mercado, né? Mas acho que foi isso. O livro nasceu para dar estofo, para dar consistência para a minha palestra.

Você já realiza a palestra Atitude Transformadora desde 2022. Quais foram as principais reações do público que a incentivaram a transformar a palestra em um livro?

Olha, o público que assiste a palestra não foi necessariamente a maior motivação para que o livro viesse, né? Como eu disse na resposta anterior, o livro veio para deixar a palestra redondinha. Mas aí houve um momento que foi interessante receber os feedbacks do público para revisar o livro. O livro já estava escrito, mas à medida que eu fui recebendo feedbacks das pessoas que viam a minha palestra, eu achei importante complementar alguns temas, rever algumas coisas que eu tinha dito, ir mais profundamente em alguns feedbacks, né? O público sempre me traz, e continua me trazendo, uma preocupação muito grande sobre segurança. As pessoas sempre me falaram isso, assim, há muitos anos que as pessoas me dizem, Rafa, eu tenho um bom produto, eu acho que eu sou um bom profissional, trabalho numa empresa foda, ou até pessoas das próprias empresas. Já me disseram, aqui todo mundo é bom, os produtos são legais, mas eu não sei o que acontece, a gente tem uma insegurança. E eu fui entender que eu tinha que falar muito sobre segurança, para que as pessoas realmente saíssem da zona, da zona de acomodação, da insegurança, para serem proativos em prol da segurança. A insegurança tem que ser combatida para que você tenha segurança. Então, eu, acima de tudo, revi muita coisa no meu livro e me aprofundei mais no quesito de segurança, porque aparece um problema meio crônico do brasileiro. O brasileiro tem uma natureza que é oriunda da sua formação, do modo como nós somos colonizados, que fomos descobertos pelos portugueses, do tanto que nós fomos roubados, saqueados, estuprados, assassinados, nós temos uma coisa de se sentir sempre meio vira-lata, meio preteridos, a gente sempre parece estar devendo, a gente sempre está de cabeça baixa. Isso tem muito a ver com as culturas poderosas que vieram massacrando e calando a nossa boca. Então, a insegurança brasileira é uma coisa absurda e completamente questionável fora do Brasil. Tem um monte de países que a gente conhece, de culturas que a gente vê por aí, que falam como é que vocês podem se sentir cachorro magro em relação aos Estados Unidos, cachorro magro em relação à cultura europeia, em relação aos asiáticos. Vocês são uma potência que o mundo inteiro celebra e realmente tem uma insegurança crônica do brasileiro que deve ser combatida. E eu falo muito sobre isso no meu livro. Eu dou inclusive dicas, dicas pontuais, dicas de médio a longo prazo, dicas imediatas para combater a insegurança. Porque quando você é seguro, você naturalmente faz as suas atitudes transformadoras. A condição cínico-anon para você ter atitude é você ser seguro.

Em sua trajetória, quais foram os maiores desafios para exercer essa “atitude transformadora”? Alguma experiência foi especialmente decisiva?

Ao longo da minha carreira, o que ainda me estimula muito a ter atitude transformadora, eu não diria nem me estimular, me obriga a ter atitude transformadora, é a inconstância dos trabalhos que eu tenho, né? Quando eu estava vivendo dez anos seguidos de contratos ininterruptos de TV, fiquei cinco anos na band, fazendo CQC, fui dois anos seguidos pra Record, depois eu voltei para um sexto ano na band, com CQC, e aí eu fui pra Globo e fiquei dois anos, pô, deu dez anos aí, né? Quando eu tava com um contrato um a sequência do outro, ganhando um salário legal todo mês, é óbvio que todo mundo procurava, é óbvio que o telefone tocava, eu tinha um monte de amigos, eu era super badalado, era super celebrado quando isso passou, e sempre passa, tá? Ainda mais do mundo de hoje, com tantas mídias, tantas plataformas, tão pulverizado de oportunidades, com um público tão disperso, consumindo todo tipo de conteúdo, sendo massacrado de oferta de conteúdo em todo canto. Quando isso acontece, é natural que esse monopólio televisivo se quebre e que pessoas como eu não tenham muitas oportunidades mais. Eu passei a não tê-las, ainda mais no perfil multifacetado que eu tenho, né? Eu não foquei 100% da minha energia em fazer TV, porque eu continuo focando a minha energia em fazer TV, fazer comédia, fazer música, fazer palestra, fazer jornalismo, escrever livros. Então, é difícil ser a primeira associação do executivo de TV para que ele me dê um contrato, concordo? Então, naturalmente, eu passei a viver em situações em que o telefone passou a tocar menos. Eu saí da zona de conforto. Quando eu não renovei com a Globo em 2018, a água começou a bater na bunda. Se é que a gente pode usar um termo popular e chucro. E, já que ninguém me ligava, eu tive que forçar a barra para o telefone tocar. E para isso eu fui criar produtos. E eu estou vivendo hoje de produtos que eu crio. E se eu não criasse esses produtos, eu fico pensando o que seria de mim se eu não criasse esses produtos. O que seria de mim se eu não criasse esses projetos? Matéria-prima, que depois virou um programa da TV Cultura, né? O nome não é meu, é da TV Cultura, mas o programa foi o que criei. O que se eles não tivessem criado música divertida brasileira, que foi o show que eu fiz com a Pedra Letícia, que rodou a tantos lugares, os meus shows de stand-up? Imagina que você não tivesse criado um stand-up. Onde ele ia trabalhar? Então, respondendo a sua pergunta, as experiências específicas para ter atitudes transformadoras sempre foram as entre safras de carreira, né? Acho que uma das maiores entre safras de carreira aconteceu em 2018, quando eu não renovei com a Globo. E quando eu parecia estar me encontrando novamente em algum lugar ao sol, veio a pandemia e aí foi um pavor, né? Depois da pandemia, eu tive que realmente aprender a fazer projeto e a criar oportunidade se não me fazer mais nada.

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O projeto Prospere Falando, que você realiza com Branca Barão, tem sido um grande sucesso. Pode nos contar um pouco sobre a proposta desse projeto e como ele ajuda novos palestrantes?

O Prospere Falando foi uma coisa muito legal na minha vida. Eu já saí do Prospere Falando, eu fiz uma turma, eu fui sócio da Branca Barão, fazendo uma turma como mentor e foi incrível, a gente formou 13 palestrantes incríveis. Na verdade, alguns já eram palestrantes e não sabiam, ou já eram palestrantes e sabiam bem, mas precisavam melhorar um pouco e a gente ajudou muito. Esse projeto é lindo porque é um projeto de empoderamento. A gente ajuda pessoas a fazerem palestra do zero, se elas não que tiverem feito, ou pega pessoas que já dão palestra e que estão com palestras mais inconsistentes ou que podem melhorar bastante, a deixar essas palestras tinindo, como a gente diria. Eu fui sócio da Branca na turma passada e decidimos não seguir mais juntos na sociedade porque eu preciso focar um pouco e a Branca está decidida a continuar com o foco dela na Prospere Falando e eu preciso continuar com a carreira multifacetado, precisava me dedicar mais e um projeto como esse não pode ter meia dedicação. Então, as próximas turmas, ela volta a fazer sem mim, como ela fazia antes, e eu dei a minha contribuição na turma com a qual eu somei meu conhecimento, o que nada impede de eu poder ajudar colaborando de algumas maneiras nas próximas.

Recentemente, você falou pela primeira vez sobre o tema do autismo, em relação ao seu irmão. Por que escolheu se expressar sobre o assunto agora?

Então não foi a primeira vez que eu falei sobre o autismo do Vitor. Eu já falei outras vezes, mas não falo com muita recorrência. Eu sou meio discreto com isso porque eu sempre tive um cuidado de preservar Vitor. Porque veja, é um cuidado que autistas exigiriam da gente se conseguissem expressar esse tipo de preocupação. Tenho certeza se um autista conseguir se expressar como a gente se expressa, fora desse espectro autista, um dos pedidos dos autistas seria, meu não ficar se expondo me expondo a partir das suas percepções não me expõe né? O Jô Soares por exemplo, que eu sempre falo do Jô, ele tem um filho o Rafa, o Jô não falava muito do Rafa, não expunha o Rafa, e ele dizia eu faço por respeito ao Rafa, porque a individualidade dele é tão grande, ele é um ser discreto, eu não quero feri-lo nesse sentido e o mesmo eu penso em relação ao Vitor. O Vitor não é um autista desenvolvido social, que tem interação, ele é bem comprometido, mas eu tenho certeza de que ele não ia gostar de ser exposto, não ia gostar de ser fotografado, não ia gostar de aparecer numa emissora de tv, de ter algum paparazzi atrás dele e era um risco que ele corria, quando eu era muito famoso. E eu sempre quis ser uma pessoa reconhecida pelo meu trabalho artístico e não pelas minhas características de vida, família e individuais. Você vê se eu estou trabalhando eu apareço, se eu não estou trabalhando, ninguém fala de mim, eu só estou dando essa entrevista para vocês agora porque de alguma maneira o meu trabalho da Atitude Transformadora, chegou a vocês, e que eu fico muito feliz. Então, eu procuro não aparecer muito a sombra da minha filha da minha mulher, do meu irmão, da minha família, porque esse não é o foco da minha carreira. Mas a postagem que eu fiz no aniversário de cinquenta e dois anos do Vitor foi uma postagem comovente, acho que ela chamou a atenção das pessoas, então parece para pessoas que foi a primeira vez que eu falei dele, não é verdade, enfim, eu sigo preservando o Vitinho e acho que é um pedido que ele me faria se ele conseguisse se expressar.

Que mensagem gostaria de deixar para aqueles que enfrentam inseguranças e hesitam em tomar atitudes mais ousadas na vida?

A mensagem que eu deixo é em primeiro lugar, perdoem-se, e perdoem-se porque é não é uma coisa de extraterrestre, isso não faz de você que tenha insegurança e consequentemente essa procrastinação de uma pessoa pior. Essa é uma característica que tem que ser respeitada. Existem explicações culturais, explicações anteriores, genealógicas, explicações que são maiores e mais antigas do que a nossa própria persona para explicar para que a gente é inseguro, falei do tipo de colonização que brasileiro teve em ser complexo de vira-lata que a gente tem essa nossa política de fazer piada de tudo, e olha que sou comediante, hem? Mas essa nossa mania de fazer piada de tudo ao invés de resolver as coisas mais graves, né? A gente parece relativizar os maiores problemas, a gente parece não valorizar o potencial que a gente tem. Então a primeira coisa diante de um quadro de insegurança que leva essa procrastinação, é se perdoar, e a segunda coisa é agir e é enfim uma vez perdoada sua limitação reaja, reaja agindo, né? Tem que se tomar alguma atitude. Se você não tem nenhuma segurança para tomar atitude alguma, busque essa segurança, faça terapia, vai fazer teatro, vai estudar um instrumento, vai conhecer jogos de grupo, fale com outras pessoas, peça ajuda para quem conhece mais que você, para quem é mais seguro do que você, sabe existem muitas maneiras de se adotar a segurança. Começar a ter segurança no seu dna, depois que se tem a segurança, é quase orgânico ter atitude. Gente segura não procrastina, gente segura não vai para de baixo do tapete em um problema, ela entende o problema, e tenta resolver como dá.

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