Fernando Fernandes: "Ser uma referência e transformar a sociedade são meus combustíveis"

Fernando Fernandes surpreendeu os telespectadores do No Limite ao saltar de paraquedas e aterrissar na plataforma montada na Praia do Coqueiral, em Flecheiras, no Ceará, para anunciar que a edição deste ano do reality show de força, resistência e coragem estava começando. A chegada radical, que para qualquer pessoa poderia ser considerada muito desafiadora, não se compara a todas as barreiras que o apresentador quebrou desde que foi diagnosticado paraplégico após um grave acidente de carro em 2009.

“Meu mundo beira o limite o tempo inteiro. Não pense que estou falando de coisas que já fiz como sobrevoar o Cristo Redentor de paramotor ou saltar de uma cachoeira de 15 metros. Desafio meus limites desde a hora em que decido sair de casa, seja para ir à padaria ou a um lugar desconhecido, que não tem acessibilidade. Meu maior desafio é estar com o coração e a consciência abertos para lidar com as barreiras que vou encontrar”, explica ele, o primeiro apresentador cadeirante a apresentar um programa na TV Globo, durante um ensaio no Seen Restaurant & Bar, do Hotel Tivoli Mofarrej São Paulo.

"Ser uma referência para as pessoas e transformar a sociedade são os meus combustíveis. A inclusão social não deve estar apenas no nosso vocabulário, devemos habitar os lugares que não são definidos como nossos. Quero que as pessoas, independentemente de terem pernas ou braços, possam viver a sua eficiência. Temos que quebrar esse conceito de 'pessoas perfeitas'. Não existe isso. Todo mundo tem suas deficiências, físicas ou não, visíveis ou invisíveis", afirma.

A decisão de não deixar que a falta de mobilidade das pernas o limitasse foi tomada ainda no hospital, onde ficou internado 35 dias. Antes do acidente, o paulistano tentava se reencontrar profissionalmente. Ele havia participado da segunda edição do Big Brother Brasil, em 2002, mas sem rumo, tinha voltado a modelar. Antes do acidente, se preparava para ir a Milão, na Itália, desfilar para a grife de luxo Dolce & Gabbana e passar uma temporada em Nova York, nos Estados Unidos. No esporte, ele encontrou um novo sentido para sua vida.

"Foi muito complicado lidar com a fama repentina para um cara mais fechado como eu era. Quando saí do BBB, vivia a vida de modelo e celebridade. Meu sucesso todo estava na imagem física e não na pessoa que eu era. Foi muito difícil. Estava tentando me reencontrar e decidi que ia passar quatro anos no exterior pouco antes do acidente. De repente, me vi dentro de um quarto de hospital sem mexer as minhas pernas e tive que retomar a minha vida. A única ferramenta que eu tinha era o esporte", relembra.

"Fiz uma analogia muito grande do Fernando criança e depois do acidente. Quando eu era  moleque, o futebol me ajudou a conquistar meu espaço, era a minha forma de me comunicar, me dava respeito, oportunidades e me incluía na galera. Quando sentei na cadeira de rodas, o esporte se tornou novamente meu meio de comunicação, criou oportunidades, me deu autoestima, me ensinou a ganhar e a perder e a não desistir. A vida ganhou um novo significado. Eu me tornei um cara de sucesso sem mexer as pernas. Antes, com pernas funcionando, patinava no sucesso. Não conseguia ser atleta profissional, era um modelo bom, mas que poderia ter sido melhor. Antes eu vivia da fama, hoje vivo do meu sucesso como atleta e comunicador", conta ele, que em 2010 conquistou o primeiro ouro de quatro mundiais que venceu com a canoagem.

Por meio do esporte, Fernando abriu portas para trabalhos como apresentador também. Em Além dos Limites, no canal Off, e o quadro Sobre Rodas, do Esporte Espetacular, a coragem e a quebra de limites eram suas marcas registradas.

"Não sou privilegiado por ser uma pessoa conhecida. Conquistei tudo o que tenho com muita luta e estando em lugares que muitas pessoas não querem estar, como ir a um local que não tem acessibilidade e ter que ser carregado. Ouvi muitos 'nãos' antes de um 'sim'. Fisicamente e psicologicamente trabalho 24 horas. Abri mão de família, de vida pessoal e de não sentir dor para chegar até aqui. Eu tive que construir portas para que eu pudesse passar por elas", diz.

Aos 41 anos e em um relacionamento estável de dois anos com a modelo Laís Oliveira, Fernando acredita estar preparado para um novo desafio: a paternidade.

"Nos conhecemos há dois anos e estamos morando juntos. Já me considero casado. Sempre tive o sonho de ter um filho e a gente começou a correr atrás disso. A minha vida sexual com a Laís é ótima e perfeita, mas não é fácil para um lesionado medular ter um filho. Estamos nesta busca de informação para sabermos como podemos realizar esse sonho. Ainda há muita falta de informação. Estamos tendo dificuldade em saber mais sobre esse processo de fertilização para quem é lesionado medular. Mas ter um filho é um desejo que pretendo realizar", afirma.

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