A cardiologista Cristina Milagre construiu sua carreira na medicina movida pelo desejo de cuidar. Desde a infância, fascinava-se pela capacidade dos profissionais de compreender e tratar o corpo humano.
“Quando ia ao pediatra, ficava encantada com a forma como ele sabia o que eu tinha apenas ao ouvir minha descrição dos sintomas. Era quase mágico”, relembra.
Natural de Divinópolis, Minas Gerais, sua jornada começou com uma forte influência familiar. O apoio do pai foi determinante.
“Ele me disse: ‘se você vai estudar tanto, por que não faz medicina? Você gosta de gente, não combina com um laboratório’. Minha vocação já se manifestava desde pequena, especialmente quando precisei auxiliar na rotina da casa enquanto minha mãe enfrentava um tratamento contra o câncer de mama”, conta.

Ingressou na Faculdade de Medicina de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e logo encontrou sua paixão.
“No primeiro ano, ao estudar o potencial de ação do músculo cardíaco, fiquei fascinada. No segundo ano, já sabia que queria seguir na área. Durante a formação, busquei aperfeiçoamento em cursos especializados, como eletrocardiograma e fisiopatologia do infarto. Com isso, aprofundei meus conhecimentos no Hospital de Cardiologia de Laranjeiras”, revela.
Após a graduação, mudou-se para São Paulo para a residência na Beneficência Portuguesa e, posteriormente, no Incor. Especializou-se em exames como eletrocardiograma, teste ergométrico e cintilografia.
“Percebi que meu verdadeiro prazer estava no atendimento direto, no cuidado integral”, explica.
Em 2020, realizou um curso de Lifestyle Medicine em Harvard, nos Estados Unidos. No ano seguinte, fez uma pós-graduação em Medicina do Esporte e, posteriormente, obteve o título de especialista em Medicina do Exercício e do Esporte. Em 2024, ministrou uma aula sobre tabagismo no Congresso Internacional do Coração, em Paris, na França.
Um dos momentos mais marcantes foi o suporte a um jovem atleta que sofreu um infarto silencioso.
“Foi um caso que me marcou muito, pois ele não apresentava os fatores de risco tradicionais. Isso reforçou minha convicção de que a prevenção e o olhar individualizado são essenciais”, conta.
Em 2010, ingressou no HCor, onde trabalha há 15 anos. Começou no pronto-socorro e, com o tempo, passou a atuar no check-up empresarial, realizando avaliações de saúde cardiovascular. Paralelamente, consolidou seu consultório, expandindo sua agenda e fortalecendo sua abordagem humanizada.

“Durante esse período aprendi a lidar com diferentes perfis, compreendendo a importância da escuta atenta para um diagnóstico mais preciso”, ressalta.
A medicina do esporte entrou em sua vida como uma forma de complementar sua atuação.
“Sou apaixonada por atividades físicas desde criança e percebi que os cardiologistas, em geral, não abordavam adequadamente essa prática. Muitos apenas dizem para fazer exercícios, mas sem explicar como e sem prescrever uma rotina adequada”, diz.
Essa abordagem integrativa reflete-se na forma como conduz as consultas.
“Acredito que a saúde do coração está diretamente ligada ao estilo de vida. Mais de 50% das doenças são causadas por hábitos inadequados. Precisamos olhar a pessoa como um todo”, enfatiza.
Com esse pensamento, criou um grupo de corrida no WhatsApp, incentivando a adoção do esporte de maneira gradual e segura.
“Convido para corridas, compartilho dicas e desafios. Hoje, temos mais de 200 participantes engajados. Essa interação chega às redes sociais, onde combato mitos sobre saúde e exercícios”, narra.
Um dos temas centrais de seu trabalho é o bem-estar do coração feminino. Integrante do Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares na Mulher do Hospital HCor, atua na conscientização sobre os fatores de risco específicos.
“Histórico de diabetes gestacional, pressão alta na gravidez e menopausa aumentam o risco. Além disso, as doenças autoimunes, mais comuns em mulheres, também influenciam. Outro ponto relevante é que sintomas de infarto nas mulheres podem ser diferentes dos homens, muitas vezes se manifestando de forma atípica, como cansaço, fadiga intensa, mal-estar, dor no estômago, falta de ar e tontura. Isso leva a um subdiagnóstico frequente, tornando essencial a disseminação de informações sobre sinais de alerta e a necessidade de acompanhamento especializado”, explica.
Seu envolvimento na área a levará a um palco internacional em 2025, quando ministrará uma palestra sobre doença coronária na mulher no Congresso Europeu de Cardiologia, em Berlim, na Alemanha.
“Essa é uma temática cada vez mais relevante, e precisamos fortalecer esse conhecimento”, garante.
Seus planos futuros incluem expandir o alcance de seu podcast, Construindo Saúde, lançado em 2023.
“O programa aborda assuntos como prevenção, menopausa, suplementação e longevidade, sempre com especialistas convidados. O conhecimento precisa ser compartilhado. Quanto mais comunicamos, mais capacitamos as pessoas a cuidarem melhor de si mesmas”, reflete.
Outro projeto em desenvolvimento é um curso voltado para pacientes e profissionais da saúde, com foco em educação.
“Muitas vezes as pessoas não sabem interpretar exames ou não entendem a importância de mudanças no estilo de vida. Quero oferecer um material didático e acessível para ajudá-los nessa jornada”, conta.
“Muitos brincam comigo pelo meu sobrenome e dizem: ‘doutora, faça um milagre!’. Eu sempre respondo que isso acontece quando cada um faz a sua parte. Meu papel é guiar, mas a responsabilidade pelo autocuidado é de todos”, finaliza.
Site: dracristinamilagre.com.br
Instagram: @dracristinamilagre
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